quinta-feira, 6 de julho de 2017

65º dia - Destino Toad Creek - Colúmbia Britânica (CA)

Dia 30 de junho de 2017.

Seven days of detention!

Are you understanding me?

Yes sir! - respondi.

Hoje aconteceu um milagre aqui no Canadá. Eu, que vinha tendo problemas com a língua inglesa, até mesmo para escolher o tipo de pão que me era oferecido no breakfast (brown, white ou sei lá mais o que), de repente entendi tudo o que aquele patrulheiro da Alaska Highway, aqui no Canadá, estava me dizendo, em inglês, inclusive que eu poderia "ganhar" 7 dias de detenção.

Mas vamos começar do começo.

Eram 10:25h quando estacionei minha moto em frente a placa "Mile 0 Alaska Highway", ou seja, o quilômetro zero dessa famosa rodovia, que fica situado na cidade de Dawson Creek, Colúmbia Britânica (Canadá).

Aqui começa a lendária Alaska Highway, estrada cuja construção foi concluída em 1942, construída por motivos estratégicos e somente no ano de 1948 ela foi aberta ao "publico". Ela atravessa os estados canadenses de Colúmbia Britânica e Yucon e avança no estado norte-americano do Alaska até a cidade de Deadhorse (Prudohe Bay) e tem atualmente 2.232 kms - é considerada, não oficialmente, parte da Rodovia Pan-Americana.

Tirar uma foto no "Mile 0" é quase uma obrigação de quem passa pela cidade de Dawsons Creek, e com a gente não ia ser diferente.

Lá chegando entramos na fila, isso mesmo, tinha fila para tirar foto no marco zero da Alaska Highway.










Feito o registro, vamos para a estrada que ainda tem muito chão pela frente.

A Highway 97 (Alaska Highway)  não tem nada de especial, inclusive lembra em muitos trechos a BR-116 no Brasil. Não é duplicada e destoa das demais estradas canadenses que vínhamos trafegando até agora,  no que se refere à conservação.

Mas ela tem uns trechos bem legais para dar uma esticada, uma "enrolada no cabo". Na maior parte dessa estrada a velocidade máxima permitida é de 100 km/h e em alguns poucos trechos é de 70 km/h e em outros, 50 km/h.

Pois bem, vínhamos nós desenvolvendo uma velocidade, digamos assim, um pouco acima do permitido. Às vezes chegávamos até 140 km/h, mas nos trechos de 70 e 50 km/h dávamos uma segurada, claro. Porém, para o nosso azar, vínhamos "mordendo a lingua", acho que até meio distraídos, quando passamos por um carro da polícia rodoviária do Canadá, que ia em sentido contrário ao nosso.

Ainda tentamos dar uma diminuída mas já era tarde. Vi pelo retrovisor o patrulheiro ligar todas as luzes daquele carro, já dando uma meia volta cinematográfica, vindo atrás de nós.

Em poucos segundos ele já estava colado na minha traseira e eu já procurando um lugar para parar, já que não existia acostamento. Por sorte encontramos uma saída para uma estrada de chão batido e paramos ali. O Roger parou um pouco mais afastado de mim e o patrulheiro estacionou a viatura exatamente do meu lado.

Quando olhei para dentro do carro ele estava falando alguma coisa pelo rádio.

Buenas, feito isso o patrulheiro desceu do carro e veio em minha direção.

Tirei o capacete, bati continência para ele, para ver se melhorava minha situação, mas  não obtive sucesso.

O jovem patrulheiro começou a falar que nós estávamos muito além da velocidade permitida naquele trecho, e  disse:

- Vocês estavam à 135 km/h!

O pior é que ele estava certo pois quando vi o carro dele se aproximando imediatamente olhei para o velocímetro e estava mais ou menos nessa velocidade.

Só que quando ele falou que estávamos trafegando â 135 km/h em um trecho onde a velocidade máxima permitida era de 70 km/h, aí eu vi que a coisa era grave.

Foi nesse momento que ele disse que, no Canadá, isso era motivo de detenção do condutor - 7 dias de cadeia, mais apreensão do veículo.

Falou mais algumas coisas, que eu não entendi bem, só sei que ele falava e apontava para um mato que tinha atrás de onde eu estava. Não sei se ele estava apontando para a direção onde ficava a cadeia ou se estava ameaçando me entregar para os ursos, que certamente tinha a rodo naquele mato.

A mijada era coletiva, para nós dois, mas como o Roger estava estacionado mais longe, ele falava olhando só para mim.

Depois de uns longos minutos levando aquele sermão ele pediu que dirigíssemos mais devagar.

- "Slow down, mas despácio" gritei para o Roger, fazendo sinal com a mão.

Nisso, o patrulheiro fala sorrindo, em português, com um forte sotaque:

- Mais devagar, ok?

Acho que, no fundo, ele se divertiu com a minha cara de "cagado".

Seguimos viagem e a partir daí começamos a avistar ursos na vegetação à beira da estrada. É fácil de vê-los de longe pois são negros e se destacam na vegetação verde. O primeiro que avistamos era um filhote, pequeno. Depois vieram outros, até que paramos para tirar uma foto.

Chamei esse aí da foto para sair na porrada comigo, mas ele me olhou com desdém e, lentamente, entrou mato a dentro.






O destino final desse dia foi na localidade de Toad River. Ali só tem uma pousada e duas bombas de gasolina, isto após se rodar muitas milhas sem avistar nada por perto.

A pousada é a famosa Toad River Lodge e RV Park.

E o que a torna famosa?

Na verdade, durante as minhas pesquisas na internet sobre os caminhos que me levariam ao Alasca, me deparei várias vezes com relatos sobre esse lugar. Aqui, não sei por qual motivo, existe a tradição de se deixar um boné na pousada, mais exatamente, no teto da pousada.

O teto da  recepção, aonde fica também o ambiente do restaurante e uma loja de "souvenirs", é tomado de bonés de todos os tipos e lugares do mundo, da mesma forma o corredor que leva aos quartos. Tem bonés e chapéus de tudo quanto é tipo, inclusive chama a atenção o número de chapéus de militares das forças armadas norte-americanas, em grande parte autografados.

Foi nesse dia que percebi que já não anoitecia mais, pois já era passado das 23 horas, e estava atualizando o blog quando olhei para fora, pela janela do meu quarto e vi que ainda estava claro, como se fosse de tarde - estava chegando perto do Topo do Mundo.










Rodamos nesse dia 650 km.
Coordenadas do hotel: N58° 50.865' W125° 13.960'

64º dia - Destino Dawson Creek - Colúmbia Britânica (CA)

Dia 29 de junho de 2017.

Saímos de Valemount e rodamos cerca de 120 km em direção à cidade de Jasper, de onde tínhamos vindo ontem, porque precisávamos fazer esse caminho para alcançar a cidade de Dawson Creek.

Nesse caminho até a cidade de Jasper passamos (novamente) pela rodovia que corta o Jasper National Park - na postagem anterior tem o vídeo dessa passagem pelo parque.

Paramos na cidade de Jasper para abastecer, calibrar os pneus e tomar café no mesmo posto de gasolina aonde havíamos encontrado, no dia anterior, o Dave (inglês) e o Dieter (alemão). Chegando lá encontramos novamente o Dieter que estava saindo para fazer um tour à cavalo.

Ao sairmos dessa região de parques nacionais a paisagem muda um pouco, porém as estradas seguem o padrão canadense de qualidade. Basicamente foi um dia sem grandes novidades, tanto que nem fotos tiramos.

Cerca de 600 km depois de sairmos da cidade de Valemount, deixamos para trás a província de Alberta e entramos na província da Colúmbia Britânica (British Columbia)

Ao chegar na cidade de Dawson Creek, nos instalamos no hotel Voyager Inn, diga-se de passagem. muito bom e com um preço razoável, tendo em vista que, a medida que vamos avançando para o norte, o preço da hospedagem vai subindo, até porquê vai diminuindo a oferta

Enquanto descarregávamos as motos, conversamos com um professor aposentado, que também é apaixonado por motos e morador da cidade de Vanderhoof. Falou que contatássemos ele quando estivermos voltando do Alasca e me passou um cartão de visitas (business card) com seus dados. Infelizmente eu não estou conseguindo encontrar esse cartão.

Falou que iria nos conseguir uma material sobre a Alasca Highway, como mapas e outras informações das cidades ao longo de rodovia. Mais tarde, ele trouxe o material prometido, que está sendo de grande valor para nós.

Ele passou então a me contar detalhes sobre a Alasca Highway, que foi construída por motivos estratégicos, na época da Segunda Guerra Mundial e que, apesar do nome Alasca, o marco "0 mile" dela, ou seja, o início, era ali, naquela cidade canadense em que estávamos hospedados, a não mais do que 2 quilômetros. Essa estratégica rodovia está completando, esse ano, 75 anos de conclusão.

Rodamos nesse dia 646 km
Coordenadas do hotel: N55° 44.988' W120° 13.527'

Professor, muito obrigado por tanta informação e gentileza!!

Material que o professor gentilmente nos conseguiu.

terça-feira, 4 de julho de 2017

63º dia - Destino Valemount - Colúmbia Britânica (CA)

Dia 28 de junho de 2017.

Imagina um frio. A impressão que tenho é que o Canadá tem um ar condicionado particular pois saímos da cidade de Calgary e a temperatura já estava baixa e a medida que íamos para o oeste , em direção ao Banff National Park, a temperatura ia caindo ainda mais.

O Banff National Park fica 100 km  à oeste de Calgary, e está localizado nas Montanhas Rochosas, as mesmas que visitamos quando da nossa passagem pelos estados americanos do Colorado, Wyoming e Montana. Essa cordilheira, se estende da Colúmbia Britânica, aqui no Canadá, até o estado do Novo México (EUA).

As estradas que cruzam esse parque são uma sucessão de belezas naturais de tirar o fôlego de qualquer um. São lagos, montanhas com os picos cobertos de neve e até glaciares.

Fizemos uma rápida passagem pela cidade de Banff, dali seguimos para a Lake Louise, outra pequena localidade dentro do parque e então continuando, saímos da Trans-Canada Highway e entramos na Icefields Parkway (93), pois pretendíamos pernoitar na cidade de Jasper.

Já vínhamos consultando onde se hospedar naquela cidade e as pesquisas indicavam que, além de serem muito caros os hotéis, quase não havia mais vaga, mas seguimos mesmo assim.

Nessas alturas já estávamos pilotando abaixo de chuva e frio, cerca de 10ºC. A temperatura, apesar de não ser tão baixa como aquela que peguei no México, no 53º dia da minha viagem e que alcançou a marca dos 2,5ºC, dava aqui uma sensação térmica  muito pior. Estava muito mais agasalhado mas mesmo assim sentia muito frio.

 Banff é uma cidade extremamente turística, muito procurada para prática de esportes de aventura.






Este é o Doug Randall, norte-americano morador de Auburn (Califórnia) que veio conversar com a gente na cidade de Banff. A filha dele, que estava junto, passou uma temporada no Brasil, em Belém do Pará, visitando a região amazônica.

Banff.

Lake Louise, cercada pelas Montanhas Rochosas.  



 Já encontrei um urso......

Não são tão perigosos quanto dizem, pelo menos esse não era.

Tomaaaa!!!! Tu não era o valentão????

 Já na rodovia Icefields Parkway (93), paramos para admirar o Crowfoot Glacier, dica de uma canadense que estava indo acampar com sua filha na cidade de Jasper, com todo esse frio que fazia. 









 Mais adiante paramos para colocar as roupas de chuva e, por coincidência, bem em frente à esse paredão, aonde tinha essa queda d'água. 



 Poucos quilômetros antes de chegar na cidade de Jasper, paramos em um hotel de beira de estrada para ver se tinha vaga e quanto custava. 190,00 dólares canadenses.




Chegando em Jasper cerca de 17:00h e, ao parar em um posto de gasolina para abastecer e procurar um lugar para nos hospedar, encontramos esses novos amigos aí da foto. 

Da esquerda para a direita: 

Dieter (alemão que tem moto na Alemanha mas estava viajando pelo Canadá de carro com a família e é apaixonado por cavalos, sendo que cria alguns na Alemanha e veio cavalgar aqui no Canadá).

Dave: inglês, aposentado, mora no Canadá, perto de Vancouver (se não me engano) e estava fazendo um tour de moto pelos parques com sua Suzuki V-Strom 650. Nos convidou para ficar na casa dele quando estivermos voltando do Alaska.

Conversamos bastante sobre motos e viagens. Como a hospedagem na cidade de Jasper era muito cara e havia já pouquíssimas vagas disponíveis, o Dave disse que havia uma cidade chamada Valemount, cerca de 100 km dalí, que era bem mais barata do que Jasper. 

Realmente, após uma busca em um aplicativo de hotéis no celular do Roger, fizemos reserva em uma cabana na cidade de Valemount e o Dave nos acompanhou até a entrada dessa cidade, já que ele estava hospedado lá perto.
Os "tiozão" das motos.

Chegando nas cabanas que reservamos na cidade de Valemount, já na província Colúmbia Britânica, fomos descobrir porquê era tão barato (e nem era tão barato assim: 56,00 dólares canadenses cada uma). A cabana que o Roger ficou pelo menos ficava perto do banheiro, mas a minha ficava tão longe que, se eu tivesse que ir ao banheiro, por qualquer motivo, tinha que levar lanche para comer durante a "viagem" até lá, além do risco de encontrar um urso pelo caminho.





Antes de ir dormir, pegamos as motos e fomos até a pequena cidade para jantar, isso já era, creio eu, umas 21:00h e como quanto mais para o norte, mais tarde o sol se põe, deu para captar umas imagens desse fim de dia.







Para concluir, um vídeo das estradas de hoje.

Rodamos nesse dia 535 km.
Coordenadas das cabanas: N52° 49.824' W119° 16.759' (não aconselho ficar nelas, a não ser que não tenha mais nenhuma outra opção).

sábado, 1 de julho de 2017

62º dia - Destino Calgary - Alberta (CA)

Dia 27 de junho de 2017.

Um pouco mais de 500 km nos separavam do nosso objetivo traçado para hoje: a cidade de Calgary, na provincia de Alberta - Canadá.

Saímos às 08:30h e tão logo pegamos a I-15, com destino à fronteira, começamos a avistar muitas nuvens escuras, não muito longe da direção que estávamos tomando.

Falando nisso, fiquei lembrando que, desde a cidade de Acapulco, no México, eu não peguei mais chuva na estrada, e lá se vão 11 dias.

Não demorou muito e logo tive que parar para colocar a roupa de chuva, mas passados alguns quilômetros a chuva passou.

Chegamos na cidade de Sweetgrass às 10:15h e, após um rápido reabastecimento, fomos fazer os trâmites de saída dos EUA e entrada no Canadá. Isto não demorou, creio eu, mais do que 3 minutos.

Todo o serviço nesse ponto da fronteira é feito por um sistema unificado. Não precisa ir em um lugar específico para dar saída dos EUA e noutro para dar entrada no Canadá. De moto mesmo, como se fosse  um guichê de pedágio, uma agente, muito educada e simpática, me pediu para desligar a moto, retirar o capacete e solicitou meu passaporte.

Fez então 3 perguntas:
1) para onde eu ia nesse dia;
2)qual era o meu destino final nessa viagem; e
3) se eu estava portando armas, drogas ou fumo.

Pronto, bem-vindo ao Canadá - simples sem vistoria ou cobrança de qualquer tipo de taxa.

Após uma rápida parada na placa de boas-vindas à província de Alberta, seguimos em direção da cidade de Calgary, aonde já tínhamos reservado um hotel e, depois de instalados, o mexicano queria fazer a troca de óleo da sua moto.

Primeiro eu.....

 ...depois a Azulona, na placa de boas-vindas. 




As estradas no Canadá são um capítulo a parte, simplesmente perfeitas - parece que estamos rodando em uma pintura. Neste primeiro trecho dentro do Canadá, indo até a cidade de Calgary, a paisagem é dominada por fazendas, com plantações a perder de vista.

Paramos então na pequena cidade de Claresholm para abastecimento, qual não foi nossa surpresa ao constatar que nas bombas de combustível havia um aviso que dizia só aceitar cartões de crédito canadenses. Recém tínhamos entrado no Canadá, não tínhamos ainda dólares canadenses e precisávamos abastecer. Por sorte, dentro da loja de conveniência do posto de gasolina havia um caixa eletrônico onde fizemos um saque, com o cartão de crédito, de moeda canadense, e assim podemos abastecer.


Seguimos então viagem em direção à Calgary, uma cidade muito bonita diga-se de passagem, e auxiliados pelo GPS chegamos facilmente ao hotel reservado.

Rodamos nesse dia 561 km.
Coordenadas do hotel: N51° 04.401' W114° 09.925'