48º dia - Destino Juchitán de Zaragoza (México)

Dia 12 de junho de 2017.

Bom, hoje pretendia rodar uns 550 km para percorrer, no mínimo, a metade do caminho até a cidade de Acapulco.

Meu relógio biológico finalmente está se ajustando pois deixei de acordar às 3 ou 4 horas da manhã, o que seriam 6 ou 7 da manhã no Brasil - hoje acordei já passando das 7 horas da manhã (hora local).

Depois do café, fui em uma casa de câmbio que tem ao lado do hotel e a cotação também não era muito favorável mas troquei uns dólares assim mesmo pois agora preciso de Pesos Mexicanos pelo menos até o meu deslocamento para a cidade de Acapulco.

Acabei saindo às 09:30h e fiquei pensando que tenho que começar a rodar mais cedo (no mínimo uma hora e meia mais cedo) pois a viagem na parte da manhã tende a render mais. Hoje não foi possível porquê tinha que cambiar moeda e a casa de câmbio só abriu depois da 08:30h.

Parei para abastecer em um posto de gasolina logo que entrei na ruta MEX200. Enchi o tanque da moto e, conforme sugestão do Rocha, enchÍ o reservatório extra de 5 litros pois, segundo ele, é bom levar gasolina reserva porque existem trechos aqui no México em que  a distância entre os postos de gasolina podem ser maiores do que o habitual.

Então o reservatório, cuja capacidade é de 5 litros, recebeu 6,289 litros.

Como assim????

Depois do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes agora tem o milagre da multiplicação do espaço do reservatório de gasolina??
Na Bolívia conseguia botar nele, no máximo, 4,8 litros, enchendo até a boca.
Perguntei para o frentista qual era o milagre e ele disse que foi porquê encheu até a boca também.

Sei!!!!!
Se não tivesse lido relato desse milagre no relato de outros motociclistas eu teria ficado surpreso.
Deixa pra lá.

Espaço de 5 litros mas que coube 6.289 litros.

Tanque e reservatório extra cheios, parti para a estrada.

Não andei 4 quilômetros e encontro tudo parado na MEX200.
Parei também e fui me informar.

¿Qué pasa? Perguntei à um motorista encostado na lateral do carro (esse aí da foto abaixo, à esquerda).
- Esta ocurriendo una protesta de estudiantes.
¿Hasta que horas?
- Creo que de aquí a poco termina.

Ok, então o negócio é esperar.

 

Por sorte tinha parado bem em frente à uma loja da Oxxo (um tipo de mini mercado muito comum aqui no México) então fui lá dentro e tomei um refrigerante, bem devagarinho para aproveitar o ar condicionado do estabelecimento.

Tomando uma "gaseosa" no ar condicionado, mas de olha na moto.

 

Atras do carro branco.

Voltei para a moto e nada da coisa andar.

Mais ou menos depois de uma hora e meia de espera uns estudantes perguntaram para mim porquê eu não pedia ao chefe dos manifestantes para passar pelo bloqueio.

Disse a eles que preferia esperar.

Foi quando um deles me disse que o protesto iria até às 16:00h.

Tasqueopariu!!!!

E eu ali, achando que a coisa já estava terminando.

Isso já eram umas 11:20h. Nesse caso, pensei, vou voltar para o hotel aonde tinha passado a noite e deixar para amanhã o primeiro trecho para a cidade de Acapulco.

Mas aí, os estudantes me incentivaram e fui lá falar com o chefe dos revoltosos. 

O que eu tinha a perder? 

Nada!

Não sabia quem era o chefe então falei com um deles qualquer. Expliquei minha situação e ele me deu o maior apoio, só que ele não mandava em porra nenhuma.

¿Quién es el jefe aquí?

Chamaram o chefe.

Apareceu um guri magrinho, camisa cor de rosa, juntamente com seu estado-maior - um monte de espinhentos (soubesse disso tinha levado uma carga de Acnase na bagagem e vendia pra eles, ia ganhar uma grana legal).

Expliquei de novo a minha situação para ele: entendia e apoiava a revindicação deles (até agora não sei qual era), inclusive, se não tivesse que tocar viagem, até participaria do movimento e coisa e tal.

- No puedo liberarte, sino pierdo la autoridad con los otros conductores. También van a querer pasar y no voy a tener argumentos para no dejar.

Ah guri de bosta, VTC!!!! ....pensei apenas.

Nisso vinha passando tipo uns táxis de tração humana (como na foto abaixo), umas bicicletas de 3 rodas com umas véinhas dentro.

Foto catada na internet.

 Então eu falei, tentando que ele me liberasse:

- Mas porquê eles podem passar e eu não? Falei apontando para os "táxis" de tração humana.

Pronto, o guri foi lá, fez um gritedo e proibiu eles de passarem também.

As véinhas que estava naquele veículo tiveram que descer e passaram por mim, me olhando com ódio.

Aí o "jefe voltou aonde eu estava e continuei argumentando.

Falei que era brasileiro, que se alguém falasse alguma coisa ele poderia dizer que deixou passar apenas um turista.

Tinhas uns espinhentos daqueles que tentaram argumentar com o  "jefe", que deveria deixar eu passar, mas a autoridade dele estava em jogo.

Uma guria falou que até uma ambulância, com sirene ligada e tudo, eles barraram (isso eu vi).

- Tenía una mujer pasando mal dentro de la ambulancia, y no dejamos pasar. - disse ela esbugalhando os olhos e pondo a língua de fora ao falar da mulher passando mal.

Nisso o "jefe" perguntou aonde estava a moto.

Apontei para ele e mostrei a moto (estava meio longe).

Os olhos do guri brilharam.
Gostou da moto!
Então ele falou baixinho, como se o pessoal que estava dentro dos carros pudesse escutar alguma coisa no meio daquela zoeira toda:

- Llega más cerca con la moto que voy a dejar pasar.

Olhei para um lado, olhei para outro e não vi "cerca" nenhuma.

Pensei comigo:
Aonde tem cerca aqui?

Foi aí que caiu a ficha, esse filhote de Zapata disse para eu levar a moto para perto ("cerca" em espanhol) que ele vai deixar eu passar.

Passei, ovacionado pelos revoltosos.

Vou ficar devendo fotos para vocês da gurizada do protesto.

Logo que passei pelos estudantes e enquanto me deslocava lentamente para o fim daquele trecho interrompido, encontrei um senhor, Jorge Moreno, empresário mexicano, proprietário de uma BMW F700GS. Conversamos um pouco, ele me deu dicas importantes de como me deslocar no México, indicando inclusive um grupo de proprietários de BMW no Facebook que pode auxiliar em caso de necessidade.

Gracias Jorge Moreno!!!

Tinha chegado lá as 09:55h e eram agora 11:40h, tinha que enrolar o cabo e morder a língua para recuperar parte do tempo perdido.

Refiz minha meta do dia, baixei de 550 para 300 km e fui.

Felizmente a estrada era muito boa e duplicada, em quase toda a extensão, e além disso estava vazia, quase deserta.

Estipulei que pilotaria até às 16:00h, independente da quilometragem rodada.

Passei um pouco do horário que estipulei e ás 16:40h cheguei na cidade de Juchitán de Zaragoza que tem uma boa estrutura, com vários hotéis. Escolhi o primeiro que encontrei, por sorte muito bom, e me instalei. Os últimos 30 minutos de viagem foram abaixo de uma chuva torrencial.

O número de barreiras, dos mais diversos órgãos oficiais que passei até chegar onde estou, é impressionante.

Foram 2 barreiras do exército, 2 da polícia federal, 2 barreiras sanitárias e 1 da receita federal.

Rodei hoje 396 km.
Coordenadas do hotel: N16° 26.746' W95° 01.564'