terça-feira, 6 de junho de 2017

41º dia - Destino Ahuachapan (El Salvador)

Dia 05 de junho de 2017

Acordei meio sem vontade de subir na moto. Na verdade eu estava ainda meio cagado por causa das falhadas do motor ontem. Não sabia o que podia acontecer hoje. Tinha decidido, depois de olhar o mapa na internet, seguir meu caminho para El Salvador e, se desse algum problema na moto, procurar ajuda nesse país e não em Tegucigalpa, capital de Honduras.

Pois bem, tomei o café (sem arroz e feijão) e me fui para o posto fronteiriço de Guacirope, à apenas 40 km de San Lorenzo.

Para meu alívio, tudo transcorreu bem com o motor da moto, sem falhas, rodando redondinho.

Quando fui chegando perto do posto de fronteira, que fica em uma baixada, eu vejo de longe um bando de "helpers", já alvoroçados quando viram a moto se aproximando.

Pensei comigo: "Fu***piiiii"

Liguei a câmera do capacete para filmar.

Passei por um, passei por outro e mais outro pensando no que fazer para espantar aquelas pragas quando vejo um grupo de soldados do Exército Hondurenho. Não tive dúvidas, vou pedir ajuda para eles.

Estacionei bem em frente ao "posto" dos soldados, já cercado de "helpers", ignorei todos eles e falei com um soldado que parecia ser o mais graduado.

- Eu sou obrigado a utilizar o serviço desses senhores?

- No señor!

- Então vazem coisas ruim!

Sumiram todos, vazaram mesmo!!

Aí o "chefe" dos soldados, com mais dois deles, me indicou um lugar onde estacionar a moto, deixou um soldado ali com a metralhadora cuidando da moto e outro me acompanhou até o guichê para fazer a imigração, que foi super rápida (não mais que 5 minutos) e depois a aduana, para dar baixa na importação temporária da moto, que foi rápida também.

Fiquei realmente impressionado com a ajuda prestada por aquele grupo de militares do Exército Hondurenho que até me senti meio mal por ter publicado a postagem de ontem, dizendo que não ia sentir saudades de Honduras. Mas cada dia tem que ser descrito como eu me sinto.

Fiz os trâmites de saída e fiquei um tempo mais conversando com aquele pessoal do exército pois eles queriam saber sobre a minha viagem.

Pedi para tirar uma foto com o grupo porém eles relutaram. Depois de insistir um pouco, o chefe deles permitiu desde que a foto não fosse publicada. Tirei uma selfie.

Saí dali, atravessei uma ponte e cheguei na imigração de El Salvador. Curiosamente não havia um único "helper" nessa imigração. Foi tudo muito rápido - acho que nem 5 minutos de demora e eu já estava "listo" para rodar mais 4 km e para na aduana a fim de fazer a importação temporária da moto naquele país.

Na aduana o atendimento foi demorado, cheguei lá às 10:25h e saí às 12:45h. Você preenche um formulário, anexa cópia do passaporte, documento da moto e habilitação, entrega em um escritório e espera, espera, espera......
Quase duas horas depois eles me entregam a autorização para rodar em El Salvador, felizmente sem custo algum.

Diferente do que aconteceu quando da minha entrada no Panamá, Costa Rica e Nicarágua, aqui não fui saudado por uma tempestade tropical.

Estava disposto a rodar o máximo possível hoje, porém resolvi comer algo em um posto de gasolina que havia alguns quilômetros adiante da aduana.

Estava no posto almoçando quando chega um sujeito e vem direto para minha mesa, na loja de conveniências,  e pergunta, já estendendo a mão para me cumprimentar:
- Brasileño?
- Si, per supuesto!

Achei que fosse alguém que tinha morado no Brasil e queria conversar - coisa comum nesse tipo de viagem e que já tinha acontecido antes.

Aí o cara começou a falar.

- blá, blá, blá, blá..... whiskas sachê.....propina!

¿Cómo así Bial ??

- Blá, blá, blá......ayuda em la aduana.

¡No creo! Um "helper" (arrozão puro) aqui?

Vade retro satanás!! Dispensei a ajuda.

Segui viagem com destino à capital San Salvador, pois era caminho para o posto fronteiriço de Las Chinamas, entre El Salvador e a Guatemala. Queria pernoitar na "boca" da fronteira.

Parei para abastecer em um posto de gasolina de beira de estrada, perto da cidade de Apastepeque, e
depois fui na loja de conveniências tomar algo para me reidratar, pois se perde muito líquido devido ao calor escaldante.

Quando fui entrar na loja do posto, quem abre a porta para mim é um sujeito com uma escopeta e cartucheira entupida de bala na cintura.

Quando eu estava na Costa Rica, na cidade de Venecia, o dono do hotel já havia me falado a respeito da violência em El Salvador, principalmente da fama dos "Mara Salvatrucha ou MS-13", que é uma gangue salvadorenha, extremamente violenta, com ramificações inclusive nos Estados Unidos e Canadá.

Não sei se o segurança com escopeta no posto estava alí em função dos "Maras" ou para prevenir qualquer tentativa de roubo.

O fato é que o segurança estava sempre atento à qualquer movimento nas imediações do posto de gasolina, como se estivesse esperando um ataque ou coisa parecida e era pouco mais de 15:00h.

Esse tipo de segurança é muito comum nos estabelecimentos comerciais em El Salvador.

Cheguei perto dás 17:30h na cidade de Ahuachapan, que fica à cinco minutos da fronteira com a Guatemala, o último país da América Central que vou passar. Ainda teria Belize mas resolvi deixar esse país fora do meu roteiro.

Na Guatemala devo ficar um pouco mais de tempo pois quero conhecer os dois pontos turísticos mais famosos desse pequeno país: as ruínas de Tikai, que segundo dizem, foi um dos maiores centros populacionais e culturais da civilização Maia, e que fica ao norte da Guatemala e também a cidade de Antígua Guatemala, conhecida apenas como Antígua. Cidade fundada em 1543 com 500 anos de história bem conservados.

Estes dois pontos turísticos que escolhi conhecer na Guatemala ficam em lados opostos do país. As ruínas de Tikai ficam ao norte, muito perto de Belize e Antígua fica ao sul, relativamente perto do Oceano Pacífico.

Rodei neste dia 342 km.
Coordenadas do hotel: N13° 56.435' W89° 51.325'


Pessoal do Exército Hondurenho que me ajudou a espantar os "helpers"

Penúltimo país da América Central. Agora só falta Guatemala.


Aqui é lugar onde o filho chora e a mãe não vê!!
Escopeta e cartucheira no posto de gasolina.




Pernoite à 5 minutos da fronteira com a Guatemala.
Arranjei um lugar especial para a azulona, para ver se ela não me dá mais sustos.






10 comentários:

  1. Bah que alivio, esses caras parecem um bando de urubú. Ainda bem que tu Vazou dessa terra.
    Bora lá Edison Nunes, estou louca pra ver as fotos das Ruínas de Tikai e das cidades antigas. Mas te saíu bem dos hellpers, ( arroz grudento), kkkkkkk Mas que loucura esse povo armado assim. Bom aqui no Brasil não fica atrás, em alguns lugares. Vamos combinar , né. aqui tbm tá virada terra sem lei.
    Que bom que correu tudo bem, graças a Deus.

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    1. Pois é Sandra, mas até agora eu estou no lucro pois só dei grana para um helper, até foi mais com pena do cara. Geralmente os postos de gasolina em El Salvador tem um desses capangas fortemente armados.

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  2. Está tão emocionante que mal posso esperar o dia seguinte para ler as narrativas dessas tuas aventuras...
    REALMENTE HILARIANTE!
    "Estamos na tua garupa",moço !
    Beij��de Beth !

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  3. Agora vem a parte dos meus desejos, ruinas de Tikai, conexão com as energias dos Maias ! foco ajustado na lente! Saudades de ti, super beijo! E vammmuu ! Tem muita gente querendo um livro depois, pois teus relatos estão deixando as pessoas encorajadas de fazerem parecido, uma contaminação positiva. Principalmente quem pensa em aventuras! Sei que nem tudo são flores, mas da dificuldade surge o aprendizado. Assim é.

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    1. Sim, as ruínas de Tikai, um dos ícones da Guatemala, juntamente com a cidade de Antígua. Fico feliz que os relatos sirvam de incentivopara que mais pessoas façam algo parecido. Eu estou curtindo relatar aqui um pouco do meu dia a dia nesta aventura. Saudades de você também.
      Bjs.

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  4. Muito legal os teus relatos Coimbra!!! Contou para aquekes caras que tu fostes ds Marinha???? Hehehehe.
    Abraço meu amigo!!!👍👍

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  5. Fala Gaúcho. Aproveitando a viagem como queria não é? Aqui estamos aproveitando do nosso jeito. Abraços e vai com Deus!

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    1. Fala Rogério. É verdade, eu preciso me "embrenhar" um pouco mais na cultura, como falei pra vocês quando estávamos juntos. Vou indo, um pouco mais devagar, mas vou indo.
      Abração amigo. Lembrança para o Nilton e Ricardo.

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