sexta-feira, 30 de junho de 2017

61º dia - Destino Great Falls - Montana (USA)

Dia 26 de junho de 2017.

Cheguei a conclusão que camping para mim é a última opção de pernoite. Dormi muito mal à noite, além do que a estrutura do camping não era das melhores, e isso que o camping daqui era, o  famoso KOA (Kampgrounds Of América), empresa que tem campings espalhados por todo o território dos EUA.

Saímos às 10:15h pois existe toda uma função de desmontar o acampamento, cuidar para não guardar nada úmido, enfim, dá um trabalho danado acampar, tem que gostar muito e não é o meu caso.

O destino de hoje seria chegarmos o mais perto da fronteira com o Canadá, porém logo nas primeiras horas tivemos que parar em um posto de gasolina na cidade de Three Forks pois, além de abastecer, tínhamos que tomar algo para afugentar o sono, resultado da noite mal dormida no camping.

Tomamos um Red Bull e retornamos para a estrada. Logo após o retorno tudo correu bem mas a medida que rodamos mais alguns quilômetros o sono voltou com uma força incontrolável. Eu não estava mais conseguindo manter os olhos abertos. Abri um pouco a viseira do capacete para ver se o ar gelado da manhã me despertava mas não fez efeito.

Então aconteceu uma coisa que eu fiquei na dúvida se deveria ou não postar aqui. Decidi relatar pois, felizmente, não houve maiores consequências e pode servir de lição que, se uma pessoa estiver com sono, deve parar imediatamente e tentar afugentar o sono fora da rodovia, e não rodando como eu fiz.

Estávamos na Interstate 15 (rumo norte) e de maneira muito repentina eu peguei no sono em cima da moto, não foi uma "piscada longa" como costuma acontecer. Nesse caso eu dei uma rápida dormida, e só não sei dizer quantos segundos, ou milésimos de segundos, só sei que acordei devido ao ruído das rodas da moto ao passar por umas ranhuras que existem nas rodovias daqui dos EUA, em ambos os lados das pistas e que tem a função exatamente de fazer barulho, tipo um sonorizador, para acordar o motorista  que esteja pegando no sono ou apenas um motorista distraído.

Quando abri os olhos, estava à poucos centímetros da mureta que separa as pistas (já tinha passado em cima dos sonorizadores, por isso acordei). Imediatamente puxei a moto para a esquerda, a fim de voltar para a pista e, de maneira muito rápida olhei para o velocímetro e vi que estava a 140 km/h e na sequência,  já com a adrenalina a mil, olhei para o retrovisor e aí percebi que eu tinha ultrapassado um caminhão, que eu não me lembrava de jeito nenhum do momento em que havia me aproximado dele vindo por trás.

Nessa hora o sono passou imediatamente, claro. O Roger estava a alguns metros a minha frente. Acelerei até alcançar ele e fiz sinal para pararmos no primeiro posto que aparecesse e que, felizmente, era logo adiante na cidade de Great Falls. Expliquei para ele o meu quase acidente, que se tivesse acontecido, tinha grandes chances de ser fatal.

Resolvemos então parar ali mesmo, na cidade de Great Falls.

Eu já tinha constatado na noite anterior que meu computador estava no limite de capacidade de armazenamento tendo em vista a enorme quantidade de fotografias e filmes que venho fazendo desde que saí do Brasil. Aproveitei essa parada mais cedo, pois era 14:50h, e depois de instalados em um hotel eu fui comprar, em uma loja de artigos de informática, um HD externo para transferir parte do material armazenado em meu computador e abrir espaço.

Quando voltei ao meu quarto no hotel, deixei a TV ligada enquanto preparava umas postagens para o blog. De repente os canais de TV daqui  interromperam suas programações normais para exibir o um aviso de tempestade, que pelo visto, podeira ser muito forte, senão não teria passado na TV.


Felizmente ficou pelo só no aviso, eu pelo menos não vi cair nenhum pingo de chuva.

Amanhã será o dia de entrarmos no Canadá.

Rodamos nesse dia 354 km.
Coordenadas do hotel: N47° 29.320' W111° 19.826'

60º dia - Destino Parque de Yellowstone - Montana (USA)

Dia 25 de junho de 2017.

Saímos da cidade de Casper dispostos hoje a inaugurarmos nosso material de camping, eu principalmente pois tinha comprado todo esses apetrechos em 2013, quando parti em uma viagem, solo, de moto ao sul do Chile, onde iria acampar.

Naquela ocasião, acabei encontrando logo no primeiro dia da viagem, na fronteira do Brasil com o Uruguai, um grupo de motociclistas dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo que estavam se dirigindo para o Deserto do Atacama. Era o pessoal do Desafio em Duas Rodas (Ivan, Canan, Guido, Celso e Ramon).

Resultado: acabei seguindo com eles para o Atacama e o material de camping ficou intacto, então agora seria a ocasião de usa-lo.

Pois bem, o dia estava espetacularmente bonito e seguíamos para o norte rodando na I-25 (Interstate 25) quando, em determinado momento começamos a avistar à nossa esquerda uma cadeia de  montanhas com os picos cobertos de neve.

Paramos para abastecer na cidade de Buffalo aonde o Roger sugeriu que saíssemos daquela auto-estrada e fôssemos em direção aquelas montanhas, que são nada mais do que as famosas Rocky Montains, ou Montanhas Rochosas, uma cordilheira com 4.800 km de extensão, que se estende da Colúmbia Britânica (Canadá) até o Novo México (USA).

Parada na cidade de Buffalo. Montanhas Rochosas ao fundo.




Passamos por dentro da cidade de Buffalo e dali, através da US16, começamos a subir aquela parte das Montanhas Rochosas através da US16. As paisagens que presenciávamos, após cada curva e a medida que subíamos, não dá para descrever. Fui fazendo umas filmagens e assim que puder vou publicar aqui um resumo deste trecho que percorremos - está faltando tempo para que eu possa fazer uma edição do vídeo.

Meadowlark Lake, no meio das Rochosas.





Quando eu estava deslumbrado com a subida das Montanhas Rochosas, vendo os picos cobertos de neve, aí veio a parte da descida, que é feita através de um "canion".

Editei um vídeo para que vocês possam ter idéia do que foi essa descida. O ideal é assistir esse vídeo em tela cheia para que vocês viajem junto comigo. 
Espero que gostem.

Alguns quilômetros depois entraríamos no estado de Montana.

E chegamos ao final do dia em um camping situado no lado norte do Parque de Yellowstone, ás margens do Rio Yellowstone, aqui no estado de Montana. A parte, eu diria, mais famosa desse parque fica no lado sul, no estado de Wyoming, onde fica, talvez, a sua maior atração que são os famosos "geisers".






Depois de montarmos as barracas, saímos para jantar (apesar do sol alto já era perto de 20;00h) em um restaurante nas imediações do camping.


Rodamos nesse dia 730 km.
Coordenadas do camping: N45° 30.661' W110° 34.888'






quinta-feira, 29 de junho de 2017

59º dia - Destino Casper - Wyoming (USA)

24 de junho de 2017.

Após termos tomado café da manhã, preparamos as bagagens nas motos e fomos na concessionária  BMW de Denver que, felizmente, ficava muito perto de onde estávamos hospedados.

Chegando lá fomos muito bem atendidos e me disseram que tinham a bomba de combustível para minha moto, porém após alguns minutos de espera disseram que tinha havido um enganos e que não tinham a bomba em estoque.

Tínhamos que abastecer antes de sair da região metropolitana de Denver, pois depois que se sai dos grandes centros os postos de gasolina ficam mais esparsos. Paramos adiante onde tinha um posto de gasolina e perto dele uma loja Best Buy.

O Roger estava querendo comprar um drone para fazer umas filmagens aéreas e disse que ia lá dar uma olhada na Best Buy para ver os preços. Resultado: saiu da loja com mais uma coisa para carregar na moto, o drone.

Modelo de drones é que não faltavam, era só escolher.









Entramos pouco tempo depois no estado do Wyoming, onde tiramos algumas fotos na placa de boas-vindas.


Já eram cerca de 17:45h quando resolvemos parar na cidade de Casper, na beira da I-25 e com uma boa estrutura perto do hotel, caso quiséssemos sair para comer algo.

Saímos, a pé, então para conhecer um pouco daquela cidade. Parece que essa parte dos EUA, o meio oeste, tem muita história por onde se passa, principalmente relativa ao avanço dos colonizadores em direção ao distante oeste (far west em inglês) e de onde vem os filmes de "faroeste" da nossa, ou pelo menos, da minha infância.

Algumas cenas das ruas da cidade de Casper.













Antes de voltamos ao hotel, paramos em um restaurante mexicano para comermos uns tacos e tomar uma legítima Corona.


Rodamos nesse dia 476 km
Coordenadas do hotel: N42° 51.437' W106° 19.565'

58º dia - Destino Denver - Colorado (USA)

Dia 23 de junho de 2017.

Conforme postagem anterior, a partir de agora iria seguir rumo ao Alasca juntamente com o Roger.

Tínhamos combinado em ir procurando, nas cidades onde passássemos e que tivesse concessionária BMW, uma bomba para minha moto. Não porque a que substituímos ontem esteja ruim, muito pelo pelo contrário, está ótima, jamais deveria te-la trocado por aquela que acabou queimando. Queria, e quero, comprar outra bomba apenas para manter como reserva, mas isso não é prioritário.

Uma coisa que estou impressionado ao rodar aqui no meio oeste dos EUA (e isso se aplica à todo o país) é como você pode programar um deslocamento de um ponto ao outro e ter a certeza que vai ser possível cumprir essa meta sem se expor à riscos ou extrapolar a velocidade máxima permitida nas rodovias daqui.

É possível fazer, facilmente, 1.000 km em um dia sem malabarismos, tal é a qualidade da infraestrutura rodoviária daqui. A bem da verdade, são estradas monótonas mas o que queremos nessa hora é isso mesmo: devorar distâncias rumo ao norte.

O Roger me falou ontem, que para o tempo que ele tem disponível para fazer essa viagem, do México ao Alasca e de volta ao México, ele tem que rodar em média 500 km por dia. É uma boa meta pois essa distância, a ser percorrida diariamente, é suficiente para deslocamentos além de não ser tão cansativo.

Combinamos de estar com as motos carregadas às 08:00h e assim foi feito.

Já com as motos carregadas, prontos para sair,  o Roger olha para mim e fala, fazendo círculos com  a mão direita sobre a barriga:

¡Tengo hambre!

Caramba, pensei comigo, o cara tá com lombrigas!

Fiquei olhando para ele, sem saber o que dizer. Aí ele fala novamente, dessa vez mudando o gesto, levando a mão para a boca:

¡Tengo hambre!

Ah bom, Yo también, respondi aliviado. Eu também tenho fome.

Saímos do hotel às 08:45h e o dia prometia ser quente, mas rapidamente, a medida que nos aproximávamos do estado do Colorado, a temperatura foi caindo a ponto de termos que parar para trocar as luvas de verão pelas de inverno e colocar mais duas camadas de roupa. Aproveitamos para fazer isso na placa da divisa dos estados do Novo México/Colorado.

Saímos da cidade de Albuquerque aos 1.500 msnm e, ao chegarmos exatamente na divisa dos estados do Novo México com Colorado a altitude era de 2.289 msnm e a temperatura tinha despencado: 10ºC.

Paramos na placa de boas-vindas ao estado do Colorado e seguimos pela I-25. Desse ponto em diante as baixas temperaturas nos acompanharam até o final do dia.


O Colorado é um estado que tem no turismo uma das suas principais fontes de renda, e isto ficou bem visível ao longo do nosso deslocamento hoje: o que nós vimos de motor-home de todos os tipos e tamanhos por essas estradas foi incrível.

Nós pretendíamos dormir na cidade de Colorado Springs mas devido ao preço elevado dos hotéis resolvemos seguir adiante, até a cidade de Denver pois o Roger já havia localizado através de um aplicativo do celular um hotel bem mais em conta dos que a gente tinha visto em Colorado Springs.

Em Colorado Springs paramos na loja  REI (Recreational Equipament Inc) para comprar algumas coisas pque faltavam para acampar, quando chegasse a hora, e dalí seguimos até o hotel que foi reservado via internet, em Denver.

Me chamaram a atenção esses equipamentos para se defender de ursos na loja da "REI" 



Rodamos nesse dia 709 km.
Coordenadas do hotel: N39° 35.056' W104° 52.549'

terça-feira, 27 de junho de 2017

Vídeo da etapa centro americana da jornada rumo ao Topo do Mundo

Da mesma forma que publiquei um vídeo relativo à conclusão da etapa sul americana da jornada rumo ao Topo do Mundo, etapa essa feita com os meus amigos Nilton, Ricardo e Rocha, hoje concluí o vídeo relativo à etapa centro americana, iniciada no dia 26 de maio, quando cheguei no Panamá e finda dia 11 de junho, quando atravessei a ponte sobre o rio Suchiate, entrando assim na América do Norte, através do México.

Foram 6 países pelos quais passei rapidamente mas que, com certeza, muito me marcaram pela sua riqueza cultural.

Uma sugestão: assista o vídeo em tela cheia.

O Nilton e o Ricardo, seguiram rumo ao Alasca, enquanto que o Rocha, por não ter conseguido o visto canadense, obrigatório para acessar o Alasca, ficou nos EUA aguardando os demais.
Continuem acompanhando a aventura desses meus amigos nos blog do Nilton e no do Rocha.

Obrigado.


segunda-feira, 26 de junho de 2017

57º dia - Destino Albuquerque (Novo México) - USA

Dia 22 de junho de 2017.

Então o pior aconteceu: tudo o que eu mais temia que viesse acontecer, desde que a moto começou a falhar lá em Honduras, no 40º dia dessa minha aventura, aconteceu hoje.

Me vi sozinho em uma auto-estrada americana, no meio de um deserto do estado americano do Novo México - a bomba de combustível havia queimado.

Eram exatamente 14:03h (esses dados precisos são gravados no GPS e colhidos  quando chego ao meu destino, no final do dia) quando à, aproximadamente 215 km de El Paso (Texas), o motor da moto parou, estancou totalmente.

Eu sabia, quase que por intuição, que a bomba de combustível da moto tinha dado ali seu último suspiro, naquele deserto do estado do Novo México. Vocês não imaginam o calor que estava, creio que estava perto dos 40ºC.

Mas para continuar a contar essa aventura vamos ter que retroceder algumas horas no tempo.

Na noite anterior, eram 22:24h, eu estava já deitado, finalizando no computador o roteiro do próximo dia para transferir para o GPS, e também me preparando para dormir, quando recebi a mensagem abaixo, via messenger.


Era o Roger Tovilla, mexicano do estado de Chiapas, estado esse que eu havia passado quando entrei no México vindo da Guatemala, porém, até então, não sabia de quem se tratava.

Ele havia me encontrado por uma sugestão do Facebook, de pessoas que tem interesse em comum, no caso: viagem de moto ao Alasca.

Ele também estava indo para o Alasca de moto, porém por um trajeto diferente do meu. Coincidentemente, ou não, nossos roteiros se cruzariam da cidade de El Paso (Texas) até a cidade de Albuquerque (Novo México). Dali eu seguiria para o oeste dos Estados Unidos, em direção ao Monument Valley e depois para San Francisco (Califórnia), e ele seguiria, quase em linha reta, em direção ao norte, a  fim de alcançar o Canadá, e posteriormente o Alasca, por um caminho mais curto.

Pois bem, respondi a mensagem dele e falei que estava na cidade de Alpine e que passaria pela cidade de El Paso (onde ele estava hospedado) e que sim, poderíamos nos encontrar a fim de fazermos o trajeto desse dia juntos. Combinei então de passar no hotel em que ele estava hospedado entre 11:00 e 12:00 horas (ele me passou as coordenadas do hotel e eu inseri no GPS, não tinha erro!).

Saí do motel em Alpine às 06:55h, passei em um posto de gasolina, ainda dentro da cidade, para abastecer onde encontrei o Greg Clevenger (hello Greg, nice to meet you!) abastecendo sua Harley Davidson para também seguir em viagem. Mesmo com muito dificuldade em função dos meus parcos conhecimentos de inglês, consegui conversar com ele e falei sobre a minha viagem.

A viagem até a cidade de El Paso, ainda no estado do Texas, seguiu de maneira espetacular. Quando alcancei a I-10 (Interstate 10) eu estava no paraíso. A estrada era tão boa que, para vencer os 355 km que me separavam de Alpine à El Paso eu levei menos de 3 horas, ou seja, a minha média de deslocamento foi superior à 100 km/h.

Cheguei mais cedo do que esperava no hotel em que o Roger estava hospedado. Lá chegando conversei com ele e frisei que da cidade de Albuquerque em diante meu roteiro seria diferente do dele - a sensação de liberdade ao se viajar sozinho de moto é indescritível, principalmente agora que eu estava rodando nos Estados Unidos.

Partimos então em direção à Albuquerque, estado do Novo México. Eu nesse primeiro trecho fui na frente e ele me seguindo. Paramos na pequena cidade de Socorro, já no estado do Novo México, para abastecer e daí em diante combinamos que ele iria na frente. 

Há exatos 50 km depois do abastecimento aconteceu o que eu mais temia. 

O Roger ia na frente, com a sua BMW 1200GS Adventure, quando de repente o motor da minha moto, sem ao menos dar um aviso, uma falhada sequer, apagou.

Eu vi a moto do Roger sumir logo após uma leve curva, e após essa,tinha uma descida. Ainda cheguei a gritar, dentro do capacete, como se ele pudesse me ouvir. 

Silêncio total, só o barulho do vento zunindo no meu capacete enquanto a moto perdia velocidade e eu levava ela para o acostamento.

Eu estava no deserto de Chihuahua, que cobre parte do México e Estados Unidos, vindo a ser o segundo maior deserto da América do Norte, com uma área de 362.000 km².

Eu não estava acreditando que aquilo estava acontecendo, se ao menos eu estivesse na frente ele com certeza iria parar junto no acostamento, mas não estava. 

Parei a moto e já sabia do que se tratava: a maldita bomba de combustível, que vinha me avisando que iria me deixar na mão desde Honduras, deu ali, no meio daquele deserto, seu último suspiro. 

Eu vinha sentado sem saber, desde que saí de Porto Alegre, literalmente em cima de uma "bomba" (ela fica situada exatamente embaixo do meu assento).

Desci da moto, fiquei olhando os carros passarem em alta velocidade, olhei para os lados da rodovia, só deserto.

Esperei uns longos minutos. Me lembrei imediatamente no que havia dito ao Roger:

"Da cidade de Albuquerque em diante nossos roteiros serão diferentes".
- Ele não vai voltar! pensei... (desculpe Roger por pensar assim).

O calor era insuportável. Não iria adiantar de nada ficar ali parado, sem fazer nada. 

A bomba de combustível original, que eu havia substituído por precaução em Porto Alegre por essa nova, estava no fundo da bolsa amarela. Eu nunca pensei em fazer essa substituição sozinho, pois não levo jeito para mecânico, porém eu tinha um pequeno vídeo, que gravei em meu celular, baixado do Youtube, de como fazer a substituição da bomba. Eu não tinha opção.

Deserto no Novo México: bomba de combustível queimada.


Aí está a bandida!



Eu já havia tirado toda a bagagem da moto, tinha tirado o banco fora para acessar a bomba de combustível quando, de repente, eu escuto o ronco de uma moto e vejo, na pista do outro lado da auto-estrada, o Roger, em alta velocidade buzinando e abanando como se dizendo: voltei!!!

Eu não acreditava no que estava vendo, o mexicano tinha voltado para me ajudar.

Demorou um pouco até ele achar um retorno, cerca de, creio eu, uns 10 minutos. Quando ele chegou coloquei ele a par da situação e vi um ponto de interrogação em cima da cabeça dele. Ele também não tinha a mínima ideia de como substituir a bomba de combustível de uma BMW F800GS.  Aí mostrei para ele o vídeo no meu celular e juntos fizemos a substituição da bomba.

Ligamos a moto e ela pegou de imediato. Felizes, tiramos fotos para registrar aquele momento,

Comemoração prematura! 


Bomba substituída, prontos para partir.


Na sequência desliguei a moto para colocar o banco no lugar e recolocar todas as minhas bagagens nos seus devidos lugares. Quando eu subi na moto e liguei novamente o motor.........nada!!!

Só aquele "nhém, nhém, nhém.....e nada da moto pegar.

¡No creo!

A bomba reserva havia queimado também? Justamente ali, naquele deserto? Duas bombas queimarem?!?

O Roger rebocou então minha moto com uma corda que eu levo, exatamente para essas emergências, até uma descida, aquela que eu vi ele sumir, pois logo adiante tinha um viaduto que cruzava a auto-estrada e lá poderíamos, pelo menos, ficar em uma sombra até decidirmos o que fazer.

Ladeira abaixo....


Enquanto eu descia na "banguela", já com a corda desconectada da moto dele, parou uma caminhonete de uma empresa e o motorista começou a falar com o Roger lá na frente (eu descia devagarinho). Paramos os três (um brasileiro, um mexicano e um norte-americano), embaixo do viaduto e ficamos tentando descobrir qual a causa do "apagão" da moto, já que a bomba substituída tinha funcionado bem em um primeiro momento.

Dali a pouco o norte-americano sugeriu que poderia ser a "spark". Spark  é a vela de ignição em inglês, que em espanhol é "bujía" e em português é vela, então vocês imaginam o quanto estávamos nos entendendo - aquilo estava virado em uma torre de babel.

Vale frisar que, no momento em que o norte-americano parou para ajudar, ele já saltou da caminhonete com um frasco de 1 litro de uma bebida, tipo Gatorade, para que nos hidratássemos e um frasco de uns 2 litros de água para a gente molhar a roupa (prática comum para quem anda de moto nessa região dos EUA). Aquela ajuda chegou em boa hora pois estávamos realmente já ficando desidratados.

Em determinado momento perguntamos ao norte-americano se ele conhecia o número telefônico de um guincho (eles usam o termo "truck" aqui nos EUA) a fim de rebocarmos a moto até a cidade de Albuquerque (onde tinha uma concessionária BMW), no que ele respondeu que sim, mas seria muito caro.

Perguntamos o que seria "caro" nesse caso.

- "Six dólares for mile!" respondeu ele.

Estávamos a quase 160 milhas de Albuquerque, imagina então a "mordida" que eu ia levar (quase USD 1.000,00).

Quando eu fiz o cálculo de quanto ia sair essa brincadeira, tonteei!

- Põe caro nisso!

Ficamos ali, os três, sem saber o que fazer (nessas alturas, aquele cidadão norte-americano já tinha se solidarizado com a gente - o problema era dele também!)

Depois de um tempo o Roger sugeriu que tirássemos a bomba de combustível novamente, pois o problema só poderia ser nela.

Tirei novamente todas as coisas de cima da moto, tirei o banco da moto e removemos a bomba. 

Tasqueopariu!!!!! - gritei em português, espanhol e inglês, a fim de que todos entendessem.

Olha só o que descobrimos: a mangueira de descarga da pequena bomba havia se soltado assim que o motor exigiu mais vazão de combustível, pois estava sem uma abraçadeira (não sabemos aonde foi parar). 

Recolocamos a mangueira no lugar, improvisamos uma abraçadeira e, após colocar tudo novamente no lugar, nos despedirmos daquele norte-americano anônimo que tão gentilmente se solidarizou com a gente e nos socorreu naquele momento difícil (ficamos tão felizes que esquecemos de tirar uma foto e perguntar o nome dele) e seguimos em direção à cidade de Albuquerque. Desta feita eu fui na frente, por precaução.

Chegamos lá quase 19:00h, nos instalamos em um hotel e fomos à uma loja de autopeças que, aqui nos EUA, ficam abertas até às 21:00h, compramos uma abraçadeira.

Fizemos a substituição da "gambiarra" pela abraçadeira no estacionamento do hotel, tomando umas cervejas e creio que, já passado dás 21:30, demos por resolvido o problema.

Aí nesse local, á noite, concluímos a manutenção da moto.


Aí você pergunta: porquê substituir uma bomba original, que estava funcionando perfeitamente, por uma outra, que além de tudo, não era original?

Vou explicar resumidamente: 
Antes de iniciar essa viagem consultei, em fóruns e em grupos no Facebok, quais eram os componentes dessa moto que poderiam vir a dar problema ao longo de uma viagem dessa envergadura. 

Segundo minha pesquisa, além do trivial ou seja, óleo, filtros, velas, pastilhas de freios e pneus, deveria ser dado atenção especial aos rolamentos das rodas, mesa de direção e também à bomba de combustível, que já tinha um histórico de, a partir de 40.000 km apresentar problemas. 

Nessas mesmas fontes, o pessoal apresentava como alternativa à bomba original, que custa R$ 2.900,00 nas concessionárias, a bomba Bosch, usada no Gol 1.0 (Bosch T-103) e que custa em qualquer loja de autopeças entre R$ 150,00 a R$ 200,00. Diziam que era exatamente a mesma.

O que você faria eu não sei, mas eu comprei a Bosch T-103.

Pois bem, quando levei a bomba ao Joadir, (mecânico especialista em mecânica BMW na cidade de Porto Alegre) para instalação, ele me advertiu que a pressão mínima de descarga dessa bomba estava aquém da mínima requerida para o funcionamento do motor - se não me engano ela trabalhava em uma faixa de 3 a 4 Bar, sendo que a mínima requerida é 3,5 Bar e que, a pressão excedente o sistema eletrônico descarta, porém em caso de falta de pressão, a bomba mantém o motor funcionando, porém aquece e tende a falhar, podendo queimar - foi o que aconteceu.

Argumentei que essa bomba tem sido usada por outros proprietários e que ninguém tinha registrado problemas e disse que iria substituir assim mesmo. 

Claro, em pequenas viagens, ele me disse por mensagem via whatsapp, a bomba até suporta essa deficiência de pressão baixa, mas em um regime forçado como esse que estou imprimindo durante 57 dias, exigindo tudo da máquina, praticamente todos os dias, não tinha como essa deficiência de pressão não resultar na queima da bomba.   

Resumindo: eu não posso reclamar pois fui advertido por quem conhece a máquina.

Fico arrepiado só de pensar se isso tivesse ocorrido naquela reta da Zona del Silêncio ou, pior, naquela reta extremamente deserta entre a cidade de Jimenez e Ojinaga. Sinceramente, não sei estaria escrevendo esse texto agora.

Após esse incidente, enquanto pilotávamos em direção da cidade de Albuquerque, eu entendi que o encontro com o Roger, de uma maneira tão inusitada, não foi fruto de mera coincidência. Entendi como uma, digamos assim, "dica", que eu não deveria seguir viagem sozinho rumo ao Alasca. 

Conversei com ele sobre isso na cidade de Albuquerque, e a partir daí vamos juntos até o Alasca e de lá voltamos pela costa oeste dos Estados Unidos, sendo que ele volta para o México através de San Diego (EUA) Tijuana (MEX) e eu, talvez, a partir de San Francisco cruze os EUA de oeste para leste, em direção ao estado da Flórida.

Rodei nesse dia 802 km.
Coordenadas do hotel: N35° 06.445' W106° 36.369'

domingo, 25 de junho de 2017

56º dia - Alpine (TX) - USA

21 de junho de 2017.

Eu decidi, um pouco depois de acordar, ficar em Alpine nesse dia. Iria calmamente em uma loja da Verizon (companhia telefônica) que havia, praticamente, em frente ao motel onde eu estava hospedado. Também precisava de um tempo para reorganizar todas as coisas que vão ficando bagunçadas dentro das bagagens, então aproveitaria e faria isso hoje.

Aqui nos EUA, assim como no Brasil, qualquer pessoa pode comprar um chip pré-pago com alguns GB's de franquia ou mesmo fazer um "contract" e sair com um número de celular como qualquer cidadão residente aqui - o problema depois é cancelar esse contrato.

Resumindo, fui na Verizon e não consegui sair de lá com o chip que eu queria (pré-pago). A atendente abriu meu celular e disse que não tinha um pré-pago que servisse nele, e disse que eu encontraria em El Paso, aquela cidade de fronteira que eu não quis passar ontem, que fica a, mais ou menos, uns trezentos quilômetros daqui

Resolvi então, sair caminhando pelas ruas  da pequena cidade na parte da manhã, enquanto a temperatura ainda estava amena.

Alpine tem duas ruas principais: uma sentido oeste/leste e a outra leste/oeste, e um outro punhado de ruas menores. É uma cidade muito pequena mesmo (segundo dados do censo do ano 2000 tem apenas 5,786 habitantes).

Comecei então a caminhar e tirar fotos das ruas secundárias e o que ainda me surpreende aqui nos EUA (e não deveria) é quanto à educação das pessoas. Se em cidades grandes daqui isso já é comum, em uma cidade pequena então isso se torna mais evidente ainda. Praticamente todas as pessoas com as quais você cruza nas ruas te dirigem a palavra, seja para te desejar um bom dia, uma boa tarde ou apenas um "como você vai?"

Como ela fica situada relativamente perto da fronteira com o México, é muito comum ver na cidade carros da U.S Border Patrol.

Esqueci de comentar na postagem anterior que é muito comum nas rodovias dessa região postos da U.S. Boder Patrol (a polícia de imigração) onde todos os veículos são obrigados a parar. Ontem passei por um no meu deslocamento para essa cidade e os agentes conferiram meu passaporte e, educadamente, fizeram perguntas à respeito da minha viagem.

Welcome to Alpine!



Sul Ross State University, fundada em 1920.




Qualquer pequena cidade daqui tem, pelo menos, um Mc Donalds e muitas igrejas.











Esta é a "Courthouse" (côrte ou tribunal) de Alpine, construída em 1888.



Uma loja de antiguidades.


Mais para o centro da cidade, ficavam os hotéis mais caros. 




Uma pequena galeria de arte.

Nada mais "texano" que esse desenho na loja de vender livros.